As relações interorganizacionais e as influências sociais
- Danillo Nogueira
- 12 de nov. de 2019
- 4 min de leitura

Para melhor observar as relações sociais é preciso conhecer a realidade das organizações, posto que economistas, administradores, gestores ou pesquisadores buscam trazer à tona os seus fatos e fenômenos cotidianos para a formulação de teorias organizacionais sobre a gestão estratégica. As organizações são fontes constantes tanto de observação de fenômenos individuais, como coletivos.
Os arranjos organizacionais se tornaram cada vez mais um desafio quanto a sua existência, prevalência e funcionalidade. No que diz respeito à organização, as empresas não se estruturam somente voltadas para o mercado ou somente para a sua hierarquia. Como exemplo, uma organização, a qual tivesse a necessidade constante de um determinado produto para suprir a sua linha de produção, teria como opção a escolha de recorrer ao mercado para encontrar uma empresa que fosse responsável por produzir esse produto, ou poderia encontrar a possibilidade de incorporar à sua hierarquia – na aquisição ambas as empresas funcionariam de forma distinta – uma empresa que pudesse supri-la, diretamente e com exclusividade.

Dentro das hierarquias, as suas formas de organizações em redes hierárquicas podem ser abrangidas desde as joint ventures, alianças estratégicas, grupos de negócios, franquias, contratos relacionais a acordos de terceirização. Na perspectiva de mercado, as empresas operacionalizam no mercado como uma população de isolados. Havendo necessidade de suprimento de materiais, as empresas optam por escolher opções de fornecedores no mercado, de acordo com a sua necessidade. Em cada mercado, os atores são nós que não possuem quaisquer laços com outro ator ou nó.
Caso a empresa incorporasse outra à sua hierarquia (aquisição), ela estaria buscando com isso um ganho. Por outro lado, a empresa teria que arcar com a assunção de um novo negócio e a incerteza de gerir esse novo negócio. Tendo em vista que a incerteza pode ser um preço alto a se arcar, empresas resultam em buscar uma alternativa com o seu fornecedor, mantendo somente um relacionamento de suprimento, arcando somente com a assimilação das margens dos fornecedores aos seus produtos.
As organizações que não possuem certeza sobre os resultados das suas relações comerciais, se fundamentam em investimentos especificamente transacionais, como dinheiro, tempo ou energia, mas que não podem ser facilmente transferidos para interações com outras organizações, por isso tendem a serem essas as organizações a se estruturar de forma hierárquica. Por outro lado, as organizações que são mais diretas, tendem a não ser repetitivas e não se pautam em investimentos transacionais, são aquelas organizações que irão direto ao mercado para realizar compras pontuais.

A Racionalidade Limitada e o Oportunismo são fatores responsáveis para se internalizar dentro da hierarquia das organizações. Quando as transações são internalizadas, torna-se necessário antecipar todas possíveis contingências, para que estas possam ser resolvidas dentro da “estrutura de governança”, ao invés de levar à complexas negociações.
O oportunismo é a busca racional dos atores econômicos para se obter vantagem própria, levando em consideração todos os fatores intrínsecos, tal como astúcia e desconfiança. O oportunismo é mitigado e limitado por relações de autoridades e por uma grande identificação com parceiros comerciais quando ambos estão contidos dentro de uma entidade corporativa do que se enfrentando um ao outro no mercado.
Dentro do modelo de hierarquias, os ganhos de sinergia são os motivos para se relacionar com seus fornecedores ou clientes. As organizações buscam por meio do processo de fusão, aquisição ou aliança entre empresas promover o processo de Sinergia, que é o valor adicional gerado pela combinação de duas empresas, criando oportunidades às quais essas empresas não teriam acesso se atuassem de forma independente.
Existe ainda a possibilidade de empresas serem um híbrido entre mercado e hierarquia, posto que pela perspectiva de mercado puro, onde se opta pela ótica exclusivista de um ou outro, os relacionamentos se provam sendo não duradouros, episódicos, formados somente pelo propósito de uma transferência bem especifica de produtos e recursos e com prazo definido para término. Por outro lado, em hierarquias puras, as relações podem ser um pouco mais duradouras que episódicas, mas uma autoridade clara e legitima existe para resolver as disputas que possam surgir entre os atores.
Já a forma híbrida das organizações em redes possibilita a organização vislumbrar melhores alternativas para a sua gestão, por meio de ganhos e vantagens que os casos exclusivos de mercado ou hierarquia não seriam capazes de proporcionar.

Empresas podem não optar por se associar em formatos de redes por possíveis características do mercado onde atuam ou também pelo seu porte. Outro fator da propensão a não adotar o modelo de redes estaria associado à nacionalidade. Fatores culturais e legais encontrados nas relações entre países podem proporcionar uma certa distância aos interesses de associação. Por fim, o poder, as condições no momento da fundação e a nacionalidade são três fatores potenciais que afetam a variação na adoção do formato em redes organizacionais.
Também existe o outro lado da sociologia econômica, quando os riscos das redes também se encontram nas suas próprias ligações. Quando observada as relações transacionais de organizações inteiramente imersas na rede, foi possível constatar que há uma relação em U invertido entre o embeddedness e o desempenho das organizações. O desempenho de organizações começa a se inverter a partir do momento em que a sua imersão social limita e restringe as suas oportunidades, assim, as organizações se tornam encurraladas por seus próprios relacionamentos.

Overembeddedness é o termo cunhado para descrever quando as organizações se tornam reféns das suas próprias redes. Enquanto a rede se fortalece, os laços de cada organização se restringem a níveis mais baixos. O grau de disfuncionalidade se encontra presente no nível das redes dos atores, não nos seus laços individuais, e as falhas estão presentes no nível dos laços, não em toda a rede.
Neste modelo econômico, pelo menos em algumas situações, as organizações voltadas não somente para o mercado ou hierarquia podem ser funcionais. Além disso, a fuga dessa perspectiva evoluiu para mostrar não somente os benefícios do modelo, mas também mostrar as restrições e disfuncionalidades presentes.
Fonte: Nogueira, Danillo P. Embeddedness estrutural e o status como deferência simbólica das empresas listadas na BM&F Bovespa: o efeito no comportamento de aquisições corporativas / Danillo P. Nogueira – 2015 – Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
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